Os fabricantes de enxaguantes bucais não poupam esforços para recomendar o uso diário de seus produtos. São propagandas na TV, em revistas, em jornais… Mas afinal, eles devem mesmo ser usados todo dia? Fazer bochecho é fundamental à escovação?
“Não”, respondem em coro os dentistas.. A maioria dos enxaguantes é formada por antisépticos bucais, produtos com alta concentração de álcool e de outras substâncias perigosas para os dentes. Isso mesmo. Antisépticos são uma ameaça à saúde bucal.
A afirmação pode soar contraditória, mas ela traduz um conceito já bem conhecido pela população. “Os medicamentos não fazem mal na dose errada? Então, com antiséptico é a mesma coisa”, esclarece Eugênio Macedo Guimarães, dentista da Mosaico Odontologia, de São Paulo.
Os antisépticos são indicados para casos específicos e devem ser usados sob orientação profissional, apesar de serem comercializados livremente. “Eles são bons para antes ou depois de cirurgias nos dentes, pois reduzem o risco de infecções”, explica o dentista.
Como escolher
Gluconato de clorexidina. Parece um palavrão daqueles que se aprende nas aulas de química, mas é importante tomar nota disso para saber qual enxaguante escolher. “Aqueles que têm (gluconato de) clorexidina são antisépticos. Eles matam bactérias”, conta Mauro Piragibe, consultor em dentística da Associação Brasileira de Odontologia (ABO), do Rio de Janeiro.
Mas matar bactérias não é bom? Na verdade, nem toda bactéria é ruim ou precisa ser eliminada. “Algumas fazem parte da flora natural e são importantes para o início do processo digestivo e para controlar a acidez da boca”, responde Guimarães.
Além disso, os antisépticos são perigosos porque deixam os dentes mais porosos, aumentando o risco de problemas. “O dente pode ficar com manchas amareladas ou até acinzentadas”, alerta Piragibe.
Pessoas com problemas nas gengivas, como sangramentos, podem se beneficiar dos enxaguantes antisépticos. Mas o uso deve ser feito com orientação. “O ideal é usar por uma semana seguida e depois parar. Então retomar por outro período e depois parar outra vez”, detalha o dentista da ABO. “É preciso acompanhamento porque há casos em que as manchas surgem rapidamente, em apenas 10 dias”, alerta.
O uso excessivo de antisépticos também pode causar descamação da mucosa bucal, o que aumenta a sensibilidade aos alimentos, e causa alterações no paladar.
Só flúor
O outro tipo de enxaguante é apenas fluoretado. “Ele pode ser usado todo dia, sem risco de manchar os dentes”, afirma Guimarães. A venda desses produtos também é livre. Para não errar na escolha, basta olhar na embalagem e ver se o produto é fluoretado ou antiséptico.
Ele só alerta para o uso na infância. “É melhor evitar porque há risco da criança ingerir o produto”, conta o dentista. A ingestão de flúor causa fluorose e deixa os dentes com manchas bem escurecidas. O produto no estômago também pode causar irritações e diarreia.
Tendo esse cuidado, o produto não tem contraindicações. Quem usa aparelho, por exemplo, pode se beneficiar bastante com a proteção dos enxaguantes fluoretados porque os aparelhos aumentam o risco de bactérias nos dentes.
O flúor dos enxaguantes é importante porque combate a perda de minerais das camadas mais externas dos dentes, processo que pode levar à formação de cáries.
Há também combinações de enxaguantes com flúor e nitrato de potássio ou cloreto de estrôncio, substâncias que ajudam a controlar a sensibilidade excessiva dos dentes. Esses produtos também requerem uso acompanhado por especialistas, para verificar a progressão do tratamento e selecionar o mais adequado para cada pessoa.
Usar à noite
O uso do enxaguante pode ser feito somente à noite, quando a salivação diminui. “Assim o produto permanece mais tempo nos dentes”, afirma Piragibe. Mas existem pessoas que preferem fazer o bochecho duas vezes por dia, para dar mais a sensação de hálito fresco.“Não há problemas em fazer isso com o enxaguante de flúor, mas se ele for usado apenas uma vez, já basta”, afirma o dentista.