Os braquetes autoligados são cada vez mais utilizados no tratamento ortodôntico, em razão de suas vantagens na movimentação dental com baixa fricção e também pela grande disponibilidade de marcas e modelos no mercado, inclusive de fabricantes nacionais com preços mais acessíveis. No entanto, na clínica diária, os ortodontistas ainda têm muitas dúvidas com relação à sua eficácia e utilização.
De acordo com Celestino Nóbrega, especialista em Ortodontia, mestre em Radiologia Oral e doutor em Ciências, os acessórios autoligantes têm sido diretamente relacionados com a possibilidade de aplicação de biomecânica por deslize, graças ao direcionamento enfatizado pelos departamentos de marketing dos fabricantes. “Em determinados momentos, porém, durante a condução da mecanoterapia, é imprescindível que o ortodontista possa contar com os altos níveis de fricção entre os trilhos dos acessórios e os fios ortodônticos”, afirma.
No Brasil, lembra Nóbrega, por volta de 2004, houve uma confusão por conta do agressivo marketing que acompanhou a introdução de novas marcas de acessórios autoligantes: “embora hoje em dia todos saibam que se pode contar com dois tipos distintos de sistemas (passivo X interativo), e de que há vantagens e desvantagens inerentes a cada um deles, na época isto não parecia tão claro. A deficiência no assentamento dos torques, que compromete a condução e especialmente a conclusão do tratamento ortodôntico, é hoje associada aos sistemas passivos. No entanto, o problema era visto como algo comum a ambos os sistemas! Assim, o interativo foi mal interpretado inicialmente. Graças a elucidativas publicações, diversos autores concluíram que o sistema interativo é muito mais eficiente que o passivo, especialmente no que concerne para uma satisfatória expressão dos torques. Importante salientar que até mesmo os acessórios convencionais, considerandose esta finalidade, são mais eficientes que os autoligantes passivos. Assim, o sistema interativo parecia apenas ser apenas mais uma novidade passageira no movimentado cenário de apresentação de novos produtos por parte dos fabricantes”, informa.
Com o desenvolvimento do sistema autoligante interativo, foi possível combinar vantagens de ambos os sistemas (ativo X passivo), já amplamente coberto por diversas pesquisas. Acessórios interativos deveriam apresentar a habilidade de atuação de forma ativa ou passiva, atuando ativamente com fios mais calibrosos e passivamente com fios de calibres mais finos. “Esta habilidade dupla poderia conferir vantagens específicas para a solução de problemas clínicos das mais variadas espécies, porém, particularmente em duas situações: a correção de rotações na fase de nivelamento e alinhamento, e o assentamento dos torques”, explica Nóbrega.
E acrescenta: “além da habilidade dupla em se comportar como sistema ativo ou passivo, o acessório interativo ideal deveria apresentar clips com resiliência variável. Como a tecnologia atual não nos permite este tipo de refinamento para a composição dos clipes, a resiliência dos mesmos é imposta de forma a satisfazer a necessidade máxima ao invés da mínima, ou seja, alguns dos sistemas atuais apresentam clipes que oferecem grande resiliência, suficiente ao assentamento dos torques. Assim sendo, a interação entre os clips metálicos ‘interativos’ e os fios de secção redonda não passa de um sonho aparentemente distante”.
Para Nóbrega, uma vez que a expressão dos torques se faz necessária para a finalização de todo e qualquer tratamento ortodôntico, independentemente da severidade do apinhamento, da necessidade ou não de exodontias, o sistema interativo é o mais eficiente em termos de expressão dos torques. “Por isso, tenho utilizado em todos os casos o sistema autoligante interativo”, declara.
Trabalhando exclusivamente com braquetes autoligados, Marcelo Martins, especialista em Ortodontia, Ortopedia Facial e Ortopedia Funcional dos Maxilares, e mestre em Ortodontia, enumera, ainda, outras vantagens na utilização dessa tecnologia: “a agilidade no tratamento, pela facilidade e rapidez da remoção e inserção dos arcos, e a diminuição no acúmulo da placa bacteriana, em razão da degradação das ligaduras elásticas. Outra grande vantagem é o espaçamento maior entre as consultas, possíveis em algumas fases do tratamento, contribuindo para uma diminuição significativa no número de consultas realizadas ao longo do tratamento, otimizando a dinâmica de retornos, e diminuindo o número de visitas ao consultório”, acrescenta.
Já Reginaldo César Trevisi Zanelatto, especialista e mestre em Ortodontia, e professor do curso de especialização de Ortodontia da APCD – Presidente Prudente, utiliza o sistema de braquetes autoligados em casos de extrações dentárias, uma vez que trabalham com baixa fricção, favorecendo o fechamento dos espaços das extrações por deslizamento. “Também utilizo o sistema em casos de apinhamento anterior com sobremordida e corredor bucal aumentado, nos quais é possível fazer expansões laterais e anteriores dos arcos dentários”, afirma.
Nos casos que necessitam de controle de torque, tais como casos de camuflagem, Zanelatto prefere utilizar braquetes convencionais, pois expressam melhor o arco retangular, melhorando o controle de torque anterior. “Uma das desvantagens dos aparelhos autoligados passivos é a não expressão total dos arcos retangulares, não suportando, assim, o excesso de força, e dificultando a finalização de alguns casos clínicos”, informa.